Fim de semana fora (com ressaca)
Daqui por diante nada mais foi como dantes, o receio de por algum motivo não conseguir ter heroína suficiente ou a horas, passou a dominar o meu viver.
Mas para que melhor percebam o que é a heroína vou vos contar mais um episódio real e que mostra bem, penso eu, o poder que ela exerce sobre quem a consome.
A determinada altura os meus pais foram para fora, ficando eu sozinho durante a semana e com o compromisso de ir ter com eles no fim-de-semana. Pois bem, chegada a sexta-feira estava na hora de preparar as coisas para a viagem de comboio até ao interior do país, claro que entre essas coisas estava a dose de heroína necessária para esse fim-de-semana.
Como dependente prevenido vale por dois, nessa tarde comprei uma grama para levar, 50 € (10 contos), o que equivalia mais ou menos a 10 ou 11 pacotes, por essa altura eu estava a consumir 2 ou 3 pacotes por dia, por isso chegava perfeitamente até domingo à noite ou segunda de manhã.
Antes de partir, nada melhor do que experimentar o produto, e assim foi, prata na mão, isqueiro e vamos a isso. Comecei por fumar uma quantidade menor que um pacote, mas o produto era mesmo bom, por isso vai de fumar mais um pouco, e assim sucessivamente.
Resultado, quando dei por mim, restava-me menos de metade do que havia comprado.
Eu devia saber que iria ter problemas no fim-de-semana, mas não queria saber, repetia constantemente para mim que tudo se iria resolver, não havia nervos tudo tinha solução.
Enquanto estava com a moca, esquecia as dores da ressaca e consumia que nem um perdido, mais, cada vez mais, sempre mais. Depois, como nessa altura somos intocáveis, não há mal que nos chegue, afinal o que poderá correr mal pensava eu?
Escusado será dizer que passei um fim-de-semana de merda, a ressacar de sábado de manhã até domingo ao fim da tarde, altura em vim a conduzir até Lisboa no carro do meu pai. Como é óbvio foi das viagens mais rápidas que fiz naquele percurso, o argumento para justificar tal velocidade foi simples, estava com saudades da namorada, e por isso queria chegar depressa.
Assim que cheguei a casa foi só tirar tudo do carro e ir “às compras”, queria lá saber da namorada, enfim, mas 10 minutos depois estava logo tudo mais calmo, peace and love na minha cabeça, até à próxima ressaca…