Tenho 44 anos. Em 15 de Dezembro de 1996 dei o meu último caldo. Passaram-se 17 anos... Aqui contei parte da minha história...

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

De volta

Voltando então ao relato da minha história, que de facto é o que interessa e o motivo da existência deste blog, estamos então na época em que comecei a dar os primeiros caldos sozinho.
De cada vez que o fazia era sempre confrontado com uma série de medos. Desde logo o pior de todos era o medo de que a seringa entupisse ou que por qualquer razão falhasse a veia e desperdiçasse o cavalo. Isto era o pior que me podia acontecer, estar a ressacar, conseguir arranjar cavalo e depois a bomba entupir era desesperante, tive cenas de estar com a agulha espetada, ter encontrado a veia e de repente ficar tudo entupido. Por mais que tentasse empurrar o êmbolo nada, nem para a frente nem para trás, só me apetecia bater em mim próprio. Outras vezes era a agulha que saltava da veia à última da hora, e o líquido em vez de entrar na veia fazia logo um alto no braço porque ficava ali acumulado, vindo mais tarde a dar origem a grandes hematomas, enfim autenticas cenas de terror.
Outro medo com que me confrontava era a qualidade do cavalo, ou melhor dizendo que tipo de mistura tinha. Toda a gente sabe que os traficantes misturam substancias no cavalo para aumentar a quantidade e logo aumentar o lucro, o chamado corte. Mas há medida que vamos descendo na cadeia todos os intermediários fazem o mesmo, sendo que os últimos, muitas vezes pequenos traficantes que apenas ganham para o seu próprio consumo, utilizam tudo o que tenham à mão, seja cimento, seja Noostan seja cal, enfim o que puderem. Ora, o meu medo era que algum desses malucos me vende-se uma mistura com alguma substância letal o que pelo facto de eu ir injectar podia ser muito perigoso.
Esse foi um dos motivos que me levou gradualmente a abandonar a compra no meu bairro e a procurar bairros de maior importância no tráfico, em particular o Casal, pois pensava que aí o risco era menor, mas em boa verdade, foi intrujado tanto no meu bairro como nos outros, dependia dos dias, das épocas, enfim dependia da consciência ou falta desta dos traficantes.

11 Comentários:

Blogger Ógnito Inc. disse...

Assustador.

3:17 da tarde

 
Anonymous Anónimo disse...

Deprimente

3:23 da tarde

 
Blogger Lipa disse...

Olá!
Isso mesmo... continua a história.
Vou continuar a acompanha-la como sabes.

4:28 da tarde

 
Blogger Maria H disse...

Olá! Voltei porque acho que não tenho nada de abandonar um local onde me sinto bem, muito menos por "convite" de uma pessoa que não é a dona da casa...
Olha, força e cá espero por novos acontecimentos!
Espero que tudo esteja mais calmo e que a PG esteja a correr muito bem.

8:46 da tarde

 
Blogger Unknown disse...

É incrível como nem a consciência da proximidade da morte não te impedia de continuar...

9:36 da manhã

 
Anonymous Anónimo disse...

Olha e 1 caldo, não te sabia bem 1 caldo nesta altura. ke bom kera. Só 5 euros. estão lá à espera ke os vão comprar. Cum bocadinho de sorte até vos dão + 1 pacote.

9:36 da manhã

 
Anonymous Anónimo disse...

Jesus! Tou deveres siderado de espanto! + didático e educativo definitiva/te era impossível. MAS O KÉ ISTO? Será ke é “... dar a conhecer o que é realmente a vida de um drogadado e em simultâneo dar pistas para que pais e familiares consigam atempadamente perceber os sinais de alerta...” Não atingi ainda o alcance deste post mas lá chegarei. O cavalheiro sempre foi assim ou está a atravessar alguma fase + complicada e de completo desnorte. Pelo ke me apercebi a mulher fartou-se de si... Deve ser 1 qq. sindrome de tensão pós-separação. Concerteza Freud ou mm. Daniel Sampaio explicariam...
Tiro contudo 2 ideias visionárias desta vergonhosa reali//, cursos de formação profissionalizantes.
1-Curso de iniciação e aprefeiçoa/to – Injete-se – ministrado por profissionais de saúde ou 1 qq. drogado + experiente
2-E ainda toxicologia das drogas e substâncias similares – Aprenda a distinguir. Qq. quimico ou frequentador assíduo do cartel de Medellín poderiam lecionar
Evitar-se-iam as situações de “angústia” , aterradoras ke aqui descreve. Ser deplorável. Houve alguém ke aqui frisou, ke tanto é cego aquele que é, como aquele ke não quer ver... Nunca lhe atribui tanto significado como agora.
Outra coisa ke me apraz saber é ke os traficantes são conscenciosos. Quem diria! Não me canso de ver nestas páginas que eles são os principais responsáveis p/ esta miséria humana. Tiveste sorte de eles serem tão burros c/o tu e não saberem da existência do antraz. Já viste se em vez de cimento, cal, sonoríferos, noostan, misturassem antraz, já eras... e evitavas esta tua triste existência.

10:07 da manhã

 
Anonymous Anónimo disse...

Olá...
Vim parar aqui nem sei como...
Vaguei, vaguei...e eis que vim parar ao teu blog!

Diferente de todos os outros que visito...
Gostei muito da forma como expões aqui as tuas vivências...!

Um beijo para ti...com magia!

2:53 da tarde

 
Anonymous Anónimo disse...

ESqueci de dizer que gostei da selecção musical!

:)

2:54 da tarde

 
Blogger A vida.... disse...

lamentavelmente a pessoas que não tem sequer hstoria de vida para contar, porque são vazios porque criticam quem tem a coragem de contar o que sofreu com o seu passado, e o que ira sofrer no futuro, pessoas sem caracter para aprender e sem estripe para deixar que os outros aprendam por isso eu me pegunto onde andas tu prof. de uma vida de angustia? porque lutaste contra a dependencia e não lutas contra quem te critica por pura ignorancia? admiro a tua coragem e espero que penses que a tua historia pode ajudar mta gente a não passar pelo que passaste, e parando desta maneira o teu blog deixaras o vazio numa historia de vida que tem mt para ensinar... Sandra Borges

8:02 da tarde

 
Anonymous Anónimo disse...

Hoje li o teu blog inteiro. Não percebo porque é que se tornou um cenário de guerra... Gostava mesmo de saber o final da tua história. Mesmo. Espero que esteja tudo bem...

10:58 da tarde

 

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