Tenho 44 anos. Em 15 de Dezembro de 1996 dei o meu último caldo. Passaram-se 17 anos... Aqui contei parte da minha história...

sexta-feira, maio 05, 2006

Quem é a heroína.


Heroína
Nomes de Rua: Cavalo, Cavalete, Chnouk, H, Heroa, Pó, Poeira

A heroína é descendente directa da morfina, e ambas são tão relacionadas que a heroína, ao penetrar na corrente sanguínea e ser processada pelo fígado, é transformada em morfina. A droga tem sua origem na papoila, planta da qual é extraído o ópio. Processado, o ópio produz a morfina, que em seguida é transformada em heroína. A papoila empregada na produção da droga é cultivada principalmente no México, Turquia, China, Índia e também nos países do chamado triângulo Dourado (Birmânia, Laos e Tailândia).

Efeitos
Os efeitos da heroína duram entre 4 a 6 horas. Inicialmente podem sentir-se náuseas e vómitos que são depois substituídos por sensação de bem-estar, excitação, euforia e prazer. Concomitantemente, pode sentir-se uma sensação de tranquilidade, alívio da dor e da ansiedade, diminuição do sentimento de desconfiança, sonolência, analgesia, letargia, embotamento mental, incapacidade de concentração ou depressão. Para além disso, pode ainda experimentar-se miose, estupor, depressão do ciclo respiratório (causa de morte por overdose), edema pulmonar, baixa de temperatura, amenorreia, anorgasmia, impotência, náuseas, vómitos, obstipação, pneumonia, bronquite ou morte.

A cavalo pela primeira vez


Depois da tropa o vazio, nenhum plano para o futuro, apenas a certeza que não queria ser policia. Andei neste dolce fare niente durante alguns meses, até que surgiu um emprego numa grande empresa de transportes. Emprego esse bem remunerado, mas mais uma vez duro e muito desgastante.

É claro que para aliviar o stress nada como uns charritos e umas saídas à noite ao fim de semana.

Por esta altura o consumo de haxixe era obrigatório, era como que, se não fumássemos, nada mais fazia sentido. Não sei bem como explicar, mas era mais ou menos do género, se não há ganzas vamos para casa porque já não há condições para fazer nada.

E é assim que chegamos ao dia de provar a minha droga de eleição, a heroína ou o cavalo como é conhecida no meio.

Lembro-me como se fosse hoje.

Era uma sexta-feira e fomos comprar umas ganzas para curtir aquela noite, no entanto por mais que procurássemos naquele dia não havia nada, apenas se encontrava cavalo. A heroína para mim metia-me imenso respeito, eu conhecia todos os agarrados lá do bairro e sabia bem como era a vida deles, e por isso não queria o mesmo para mim.

No entanto, e uma vez que não havia chamon, alguém colocou a hipótese de fumar uma chinesa para não ficarmos caretas a noite toda. A minha primeira reacção foi de rejeitar a ideia, mas a pressão do grupo foi maior. Afinal fiquei a saber que eu era o único que ainda não havia experimentado, e sendo assim após alguma reflexão lá concordei em, a título excepcional, experimentar, afinal seria só aquela vez.

A primeira diferença que notei foi a questão monetária, com 500 escudos (2,5€) comprava meio conto de chamon que me dava para mais de um dia, enquanto que para o cavalo eram necessários pelo menos 1000 escudos (5€) para comprar um pacote, um décimo de grama.

Mas pronto, um dia não são dias, e lá fizemos uma vaquinha para comprar um pacote que fumámos na prata (chinesa) entre os quatro.

O meu receio era enorme, tinha ouvido n histórias de malta que não se dava bem com a primeira experiência e que ia ao gregório, para além disso afinal de contas estava a experimentar uma droga dura, era de esperar um efeito brutal. No entanto para minha surpresa nada disso aconteceu, à medida que ia fumando uma calma, uma paz doce e uma lucidez embriagante foram se apoderando de mim.

Foi paixão à primeira vista, a partir daí não mais parei.

quinta-feira, maio 04, 2006

Desculpem a ausência

Antes de mais quero pedir desculpa pelas minhas faltas de comparência, mas ultimamente não me tem sido possível estar tão presente como inicialmente, tentarei que não se repita muitas vezes mas não depende só de mim.

Quanto às perguntas que me têm colocado, vou passar a responder directamente aqui em vês de enviar mails pessoais, uma vês que não me é possível contactar toda a gente por esse meio.

Maria, o choro a que me referi aquando da entrada para a tropa tem uma razão muito particular de ser, o facto é que aquele momento foi o primeiro em que eu, filho único mimado, saí pela primeira vez sozinho de casa. Para além disso, as histórias que me tinham contado dos primeiros dias de tropa não eram nada animadoras, como tal o desconhecido e o ambiente, seguramente, adverso para onde eu me encaminhava deixavam-me apreensivo.

Posso até contar um episódio curioso que contribui para o receio que eu sentia. Na véspera do assentar praça dirigi-me ao quartel e perguntei ao sentinela até que horas podia entrar no dia seguinte, e a resposta que obtive foi algo como:

“- Vens para a tropa?! Não sabes onde te vens meter, eu se fosse a ti fugia pois isto aqui é um inferno.”

È evidente que não fugi, e agora à distância até posso reconhecer que aqueles foram dos melhores dias da minha vida, principalmente a recruta. Até digo mais, aprendi muito no que toca a companheirismo, camaradagem e espírito de corpo, coisas que vieram a ter alguma importância na minha vida e que não teria aprendido se não tivesse passado por lá.

Agora a minha colega Ana.

Bem, quanto à questão que me colocas eu já abordei um pouco essa questão, no entanto não me importo nada de voltar a falar sobre o assunto.

O fruto proibido é sempre o mais apetecido, isso é ponto assente, logo a proibição não é solução. Depois, se nos é possível socializar com um copo de álcool na mão, porque não fazer o mesmo com um charro? É evidente que nos deveria ser permitido fazer a escolha. Aliás, essa é para mim a grande questão. A nossa liberdade é um conceito muito relativo, porque somos e seremos sempre prisioneiros da necessidade de efectuar escolhas, o problema é fazer a escolha correcta.

Eu pessoalmente nunca fui muito apreciador da moca do chamon ou da erva, como já o disse várias vezes, no entanto percebo perfeitamente quando comparas estas substâncias com o álcool, provavelmente morrem mais portugueses devido ao seu consumo, directa ou indirectamente.

Enfim, cada cabeça sua sentença, eu por agora não fumo, ou melhor só fumo tabaco, quanto ao resto há tanta outra coisa boa para fazer sóbrio, não achas?