Tenho 44 anos. Em 15 de Dezembro de 1996 dei o meu último caldo. Passaram-se 17 anos... Aqui contei parte da minha história...

quinta-feira, julho 20, 2006

Pequeno tráfico.

Enquanto esperava pelo passar do tempo e pela chegada da tal consulta de psiquiatria, era necessário continuar a alimentar o vício, o que se estava a tornar cada vez mais difícil face às dificuldades financeiras que aumentavam de dia para dia.

Os esquemas que montava para rapidamente arranjar dinheiro estavam a ser cada vez mais difíceis de elaborar e por outro lado mostravam cada vez menos resultados, uma vez que os alvos desses esquemas se mostravam cada vez mais relutantes em acreditar nas histórias que eu inventava.

Assim, a prioridade passou a estar centrada na obtenção de bens passíveis de vender aos intrujas a quem eu comprava o cavalo. Como já referi, nesta altura estava a trabalhar numa empresa onde tinha acesso diário a bens que se prestavam a esses fins, e assim os pequenos furtos passaram a fazer parte do meu dia a dia no trabalho.

Aquilo que eu procurava era sempre o que fosse mais fácil de trocar, e aqui o tabaco era de entre todos os bens o mais fácil de transaccionar, não só junto dos dealers como inclusivamente em alguns cafés e pequenas lojas lá do bairro, a cada 5 maços de tabaco correspondia um pacote ou 1000$00.

No entanto, e como é normal, nem todos os dias conseguia resolver os meus problemas por esta via, e assim foi necessário encontrar soluções alternativas.

É então que me aproximo de um dos intrujas do meu bairro e lhe disponibilizo o meu carro e a mim próprio, como motorista, para, em troca de algum cavalo, ir com ele buscar o produto que diariamente vendia lá no bairro.

Sem me preocupar com os riscos que corria, foi assim que estive durante algumas semanas envolvido no pequeno tráfico. O esquema era simples, saíamos por volta das 22 horas do meu bairro, dirigíamo-nos a Sacavém a um determinado café e a troca realizava-se ali aos olhos de quem queria ver. Um saquinho com 15 ou 20 gramas para um lado e um maço de notas para o outro, era o tempo de beber um café e estava feito.

Depois era chegar ao meu bairro, esperar um pouco enquanto o intruja fazia o corte, ou seja, adicionava algum pó que adulterava a qualidade do cavalo e aumentava o lucro, na maioria das vezes Nostan, e enchia alguns pacotes, um ou dois eram para mim.

Assim estava preparado para passar mais uma noite, normalmente a bezerrar e a pensar em como iria arranjar cavalo na manhã seguinte.

3 Comentários:

Blogger Maria H disse...

Normalmente é assim que começa o tráfico. Connosco foi assim mesmo. Tínhamos carro o que era o ideal para fazer de transporte a quem queria ir comprar e assim ganhar a "representação". Posteriormente já não havia carro e a situação invertia-se, eram os outros que nos procuravam para nos dar boleia. Chegando à conclusão que isso não era rentável e passámos a ir a Lx à boleia (100km + ou -), pela auto-estrada, todos os dias ( e às vezes 2 vezes por dia e às vezes sem dinheiro no bolso)Nunca ficámos a pé uma única vez!! Sinónimo da persistência e vontade de um toxicodependente que tudo o que quer, consegue! Deve ser das poucas qualidades que não se deveria perder ao se largar o vício não achas?

3:46 da tarde

 
Blogger Lipa disse...

Pelo que vejo a Maria h tem razão...persistência é o que não falta... é realmente uma qualidade que devia permanecer mesmo depois e para outras situações...

5:07 da tarde

 
Blogger Unknown disse...

Cada vez estavas mais metido nessa cena... estava difícil de seguir noutra direcção nessa altura!

11:16 da tarde

 

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