Tenho 44 anos. Em 15 de Dezembro de 1996 dei o meu último caldo. Passaram-se 17 anos... Aqui contei parte da minha história...

segunda-feira, novembro 06, 2006

De volta ao consumo, ou a famosa recaída.

Esta sensação de liberdade, esta alegria de todos os dias acordar e ter a sensação de que o sol estava de dia par dia mais bonito teve uma curta duração.
Durante uns tempos estive quase que prisioneiro, não podia sair de casa sozinho, não podia ficar em casa sozinho, não podia ter dinheiro, não podia nada.
No entanto, nenhum de nós (pais, namorada, amigos não consumidores e eu próprio) sabia quais os passos a dar para que tudo não tivesse sido em vão. A minha psicóloga apenas me mandou frequentar as reuniões de NA, e passado pouco tempo retirou-me toda a medicação. Afinal a cura tinha corrido tão bem que eu nem precisava de inibidores de opiáceos. Assim, sem saber muito bem o que eram as reuniões lá aceitei ir.
A primeira vez foi na Praça de Londres, e lembro-me bem da desilusão que aquilo foi para mim, afinal eu estava curado, já não consumia há algumas semanas, e aquele pessoal e a sua conversa eram para mim muito esquisitos. Depois eles eram quase todos agarrados que haviam picado e eu não, eu só tinha fumado e para além disso, eu já estava curado. Como é óbvio não voltei a pôr lá os pés.
A falta de objectivos e actividades foi fatal, passado pouco tempo comecei de novo a aperfeiçoar as minhas capacidades de manipulador e foi fácil, muito fácil, conseguir arranjar dinheiro e voltar a consumir.
Não me perguntem se o sofrimento da ressaca não bastava para eu não querer voltar, porque a resposta é só uma, eu voltei, e voltei para aumentar o meu consumo.
Lembro-me que da primeira vez em que retomei o consumo, na minha cabeça matraqueava uma ideia – “é só hoje, é só para matar saudades, tu consegues controlar”
Mas foi mentira, foi naquele dia, e em todos os outros que se lhe seguiram, durante não sei quanto tempo.
Naquela altura, o grau de dificuldade para enganar todos os que me rodeavam aumentou, pois agora estavam todos muito mais atentos, mas por outro lado toda a gente acreditava na sua ingenuidade que eu estava curado, ninguém conhecia o enorme poder da heroína.
E eu lá ia, suportando o meu vício com mentiras e pequenos esquemas.
De dia para dia o corpo pedia mais, e a resistência que eu tinha à seringa foi finalmente quebrada.

5 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

O que te levou a injectar? Quanto tempo fumas-te antes de te injectares?

12:48 da tarde

 
Anonymous Anónimo disse...

Cada vez que o meu marido tem uma recaida, dou por mim a visitar o teu blog, e sabes, tem ajudado muito, pelo menos para tentar perceber...Acho que és um exemplo de coragem.

12:54 da tarde

 
Blogger Lipa disse...

Exmplos de muita coragem: o blog e o teu catarina...

É um mundo tão diferente do que estou acustumada, é impressionante o que vou sabendo.

4:38 da tarde

 
Anonymous Anónimo disse...

Dei o teu exemplo de força e coragem ao meu marido, mas cheguei a um ponto que acho que tudo o que faço por ele é em vão, aquilo sai do corpo mas na cabeça esta tatuado, qual não é o meu espanto(velam la que ainda me espanto) que até as coisas de ouro do filho ele vendeu! Neste momento está a tomar Naltrexona e recebeu um ultimato da familia, se não for desta está por sua conta. O que mais me revolta é que todos temos feito sacrificios por ele,e ele é incapaz de o fazer nem que seja pelos filhos, agora está bem mas a mim nao me sai da cabeça o amanhã. Enfim...é realmente muito complicado passar por um problema destes.

3:59 da tarde

 
Blogger Unknown disse...

è muito complicado mesmo. É o tipo de problema q parece pior do q qualquer outro. Conviver e amar um dependente químico. Devido a doença se tornam egoístas, capazes de passar por cima de qualquer um ( pai, mãe, esposa e filhos ) para conseguir a droga. Desconsideram o sofrimento e angustia de todos aqueles q o cercam. Mas o q fazer? O amanhã assusta. Difícil viver ao lado de alguém tão vulnerável, com quem não se pode contar para nada.

6:56 da tarde

 

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